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Brasil e Itália se unem em feira de negócios do vinho no Sul

Wine South America, que celebra vinho nacional, é organizada por grupo italiano

O vinho brasileiro, na sua alma, é italiano. Na maior parte dos casos, é produzido por famílias descendentes de italianos da Serra Gaúcha, uma região que, 150 anos após o início da imigração italiana, ainda guarda muitas tradições do país de origem de seus colonos. Por lá, a comida ainda é massa, frango e polenta. Ainda se fala o talian (uma língua que surgiu na região a partir da mistura de dialetos vênetos e português). O vinho ainda está presente na mesa em todas as refeições.

Não há de ser coincidência o fato de a VeronaFiere, organizadora da Vinitaly (a maior feira de negócios do vinho da Itália e uma das maiores do mundo), escolher Bento Gonçalves, na Serra Gaúcha, como sede para a Wine South America, a feira de negócios do vinho do mesmo grupo no Brasil. Ali os italianos estão em casa.

No início do mês, estive em Bento Gonçalves para a 5ª edição da Wine South America à convite da própria feira. Como quase toda press trip (viagem para grupos de jornalistas), o programa foi intenso, com visitas a vinícolas de manhã, visita à feira à tarde e jantares em vinícolas à noite.

Vi muita coisa interessante e bebi muito vinho. A impressão mais forte que ficou foi a dessa ligação profunda entre o vinho gaúcho e o vinho italiano. Mesmo porque o vinho brasileiro e o vinho italiano eram as presenças mais fortes no evento. Das 430 marcas de 20 países presentes, 200 eram nacionais e 56 eram italianas.

O pavilhão italiano era o maior da feira. Reunia 23 produtores, de 15 regiões da Itália, apresentando 256 rótulos. Esse pavilhão foi organizado pela ICE (Agência para a Promoção no Exterior e a Internacionalização das Empresas Italianas) em conjunto com a ITA (Italian Trade Agency).

Fora do pavilhão, outras 24 empresas italianas organizaram participações autônomas. Isso sem falar nos vinhos italianos que foram apresentados nos estandes das importadoras. As duas agências organizaram também três masterclasses, uma para cada dia de feira, dadas pelo sommelier brasileiro Gianni Tartari.

Na edição de 2022, também estive na Wine South America. Naquele ano, quem deu
as masterclasses foi o master of wine italiano Gabriele Gorelli. Andei com Gabriele pela feira fazendo-o provar alguns vinhos nacionais. No fim, ele me disse o que uma vez o inglês Steven Spurrier (o cara do Julgamento de Paris) já tinha me dito: “Os vinhos brasileiros são mais próximos em estilo dos europeus do que dos vinhos do novo mundo”.

Numa manhã de 2022, como já contei aqui antes, fui com Gabriele encontrar o enólogo João Valduga e dois produtores de uva (todos os três descendentes de italianos) para uma conversa informal sobre a história dos colonos italianos na região. A reação de Gabriele, um jovem toscano bastante moderno, teve uma reação mais afetiva ainda do que eu esperava, ficou evidentemente emocionado de encontrar a Itália tão longe de casa.

Lembrei desse episódio agora na feira deste ano conversando com a sommelière Anna Rita Zanier, uma italiana radicada no Brasil há mais de 20 anos. “É emocionante mesmo”, disse Rita, que estava na feira apresentando os vinhos (todos italianos) da importadora paulista Cecconello. “A gente vê por aqui coisas que não vê mais na Itália. Essas casinhas, por exemplo, com um pequeno vinhedo, umas árvores frutíferas, uma horta. Isso tinha antes por lá. Hoje quase não tem mais. Parece muito com a Itália de uns tempos atrás.”

Fonte: Folha de São Paulo

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