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Abril Azul acende alerta sobre mobilidade urbana e inclusão de pessoas autistas

No mês de conscientização sobre o Transtorno do Espectro Autista (TEA), especialista em transportes e integrante do Mova-se Fórum de Mobilidade, Flávia Nascimento, aponta desafios e propõe soluções para tornar as cidades mais acolhedoras às necessidades sensoriais e cognitivas da população atípica

Segundo a última atualização do órgão estadunidense Centers of Disease Control e Prevention (CDC) – em português, Centro de Controle e Prevenção de Doenças –, a prevalência do autismo já chega a 1 para cada 36 pessoas, o que pode indicar que, no Brasil, existam quase 6 milhões de autistas. Nesse contexto e em meio às iniciativas do Abril Azul, mês dedicado à conscientização sobre o Transtorno do Espectro Autista (TEA), a mobilidade urbana surge como um desafio significativo para as pessoas no espectro. Embora avanços em acessibilidade física sejam notáveis, aspectos sensoriais e cognitivos permanecem negligenciados nas políticas públicas e no planejamento urbano.  

Para a engenheira civil e especialista em transportes, integrante do Mova-se Fórum de Mobilidade, Goiânia, por exemplo, ainda está “engatinhando” quando se trata de adaptar a cidade às necessidades das pessoas autistas. “A maioria dos projetos ainda foca em rampas e pisos táteis, o que é essencial, mas não suficiente. Negligencia-se completamente as questões sensoriais e cognitivas que afetam diretamente quem está no espectro autista”, alerta. Ela pontua que o barulho constante de buzinas, motores e sirenes pode desencadear crises sensoriais, além dos estímulos visuais excessivos, como painéis piscando, cartazes com cores fortes e sinalizações confusas. “Tudo isso somado cria um ambiente urbano hostil para quem tem hipersensibilidade sensorial”, ressalta. 

Outro ponto que também requer atenção, mas ainda é pouco discutido são os desafios enfrentados por adultos autistas que dirigem. Isso porque Flávia acredita que a autonomia conquistada na direção esbarra em obstáculos invisíveis, como o trânsito caótico e a imprevisibilidade das vias. “O volume de motos, por exemplo, é um agravante em Goiânia e região metropolitana. Elas surgem de repente nos retrovisores, o que pode ser extremamente desgastante”, relata. Além disso, a falta de sinalização acessível e o preconceito em abordagens policiais comprometem a segurança de quem está no espectro. “Uma reação diferente pode ser mal interpretada como desobediência, quando na verdade é uma crise relacionada ao TEA”, completa. É preciso preparar os policiais e agentes de trânsito para abordagens mais humanas. 

Soluções 

Em algumas cidades brasileiras já há iniciativas de conscientização para uma mobilidade urbana mais inclusiva. Em Natal (RN), a prefeitura lançou nesta terça-feira, 08, por meio da Secretaria Municipal de Mobilidade Urbana o “Busão da Inclusão”: mais de 300 ônibus serão adesivados externamente com mensagens de conscientização, além de outros 400 veículos que receberão cartazes informativos em seu interior. A ação prevê ainda que equipes da prefeitura e do Mandato Cidadão realizem panfletagens com materiais educativos e palestras itinerantes dentro dos próprios ônibus, abordando aspectos do TEA e formas de tornar o convívio mais respeitoso e acolhedor.  

Flávia Nascimento defende que as cidades precisam ser pensadas levando em conta que nem toda deficiência é visível. Ela lembra que Goiânia, por exemplo, ainda não conta com iniciativas voltadas diretamente à população no espectro e que, para mudar esse cenário, é possível começar com medidas simples, como cartilhas de orientação para motoristas e cobradores, sinalização com linguagem acessível e criação de áreas sensoriais de descanso em terminais de transporte coletivo. “Falta empatia e escuta ativa com essa população. A comunicação visual precisa ser mais simples e previsível. Áudios mais suaves, cores neutras e fluxos mais organizados ajudariam muito e não exigiriam grandes investimentos. Precisamos de mais vontade política e compartilhar conhecimento”, finaliza. 

Sobre o Mova-se Fórum Nacional de Mobilidade @movaseforumdemobilidade        

 O Mova-se Fórum Nacional de Mobilidade foi criado em 2021 por especialistas em mobilidade urbana de diversas áreas, com o intuito de discutir e contribuir com soluções para a mobilidade do Brasil. O grupo, que começou com quatro integrantes e hoje conta com mais de 600 profissionais – entre técnicos, pesquisadores e professores do segmento no país –, tornou-se destaque em pesquisas e desenvolvimento de conhecimento sobre transporte público, pedestres, vias inteligentes e temas relacionados.  

Fonte: Agência Kasane

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