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Espanhóis miram soja brasileira após tarifaço de Trump e veem tendência na Europa

O Brasil poderá ser beneficiado pelo 'tarifaço' de Trump

A possível inclusão da soja entre os produtos americanos que poderão ser alvo de uma tarifa de 25% pela União Europeia, em retaliação às medidas anunciadas pelo presidente dos EUA, Donald Trump, deve favorecer diretamente as exportações do grão pelo Brasil, ampliando sua liderança neste setor.

Essa análise foi comunicada nesta segunda-feira (7) ao governo brasileiro, pelo embaixador do Brasil na Espanha, Orlando Leite Ribeiro. A reportagem teve acesso ao ofício que foi enviado ao Ministério de Relações Exteriores.

No documento, o embaixador afirma que quase a metade da soja importada pela Espanha vem dos EUA. O país europeu hoje é o maior produtor de rações e carne suína da União Europeia, além do segundo maior produtor de carne de aves, só atrás da Polônia.

Por isso, avalia Ribeiro, o agronegócio espanhol teme que a decisão da União Europeia, de “bater onde mais dói” nos EUA, dada a relevância no mercado europeu, cause aumento local de custos e, consequentemente, alta nos preços da carne. Daí o Brasil ser a saída mais evidente não só para a Espanha, mas toda a União Europeia.

“O Brasil tem sido o principal fornecedor do produto para a Espanha, com valores de importação relativamente estáveis na última década, seguido de perto pelos EUA”, afirmou o embaixador. “Em 2023, o Brasil respondeu por 48,4% das importações espanholas e os Estados Unidos, por 47,5%.”

Globalmente, o Brasil respondeu por cerca de 55% das exportações mundiais de soja em 2024, segundo os dados do Ministério da Agricultura. O volume chegou a 101,86 milhões de toneladas, aumento de 29,6% em relação a 2023.

No ano passado, a soja foi o principal produto da pauta exportadora brasileira, com valor de US$ 52,3 bilhões, crescimento de 14,7% sobre 2023. Os grãos responderam por cerca de 16% do total das exportações brasileiras no ano.

A importância da soja para o agronegócio espanhol está refletida em sua dependência de outros países. Hoje a Espanha importa cerca de 95% da oleaginosa que consome.

Como a China já anunciou que aplicará uma tarifa de 10% sobre a soja americana, o agronegócio espanhol avalia que a adoção de medida semelhante pela União Europeia deva levar o bloco e Pequim a disputarem os estoques do Brasil e da Argentina. O país vizinho “tem atualmente pouca relevância no suprimento de soja para a Espanha, superado por produtores como Canadá, Uruguai e Ucrânia”, como afirma a embaixada.

Apesar do potencial baque no comércio global, o Brasil pode se aproveitar do rearranjo dos fluxos comerciais e expandir o volume de transações às economias mais afetadas, como União Europeia, China, Japão e México.

Nos últimos anos, os setores de rações animais e de carnes têm competido com a demanda crescente da soja para consumo humano, como leites vegetais, molhos e produtos fermentados, o que contribui, ainda que marginalmente, para a alta de preços.

A Embaixada do Brasil na Espanha cita, ainda, como a imprensa local tem se referido ao agronegócio brasileiro, com previsão de safra recorde de soja neste ano. A menção é de que o agro nacional “está esfregando as mãos” à espera de consequências mais concretas do tarifaço de Trump.

Questionada sobre o assunto, a FPA (Frente Parlamentar Agropecuária) não se manifestou sobre o tema. Em geral, porém, predomina uma análise de que o cenário tende a favorecer os produtos nacionais.

O governo acompanha o cenário com cautela. Um aumento forte da demanda externa pela soja poderia aumentar o preço do produto brasileiro, reduzindo a oferta no mercado interno e, assim, resultando em inflação no Brasil, o que o governo Luiz Inácio Lula da Silva tem tentado combater, sem sucesso.

Em relatório atualizado em janeiro deste ano, o Departamento de Agricultura do governo dos EUA (Usda, na sigla em inglês) calculou o impacto da guerra de tarifas para o setor do agronegócio. Entre 2018 e 2019, a retaliação comercial causou perdas de mais de US$ 27 bilhões nas exportações agrícolas. O maior prejuízo veio da queda das importações chinesas, e só a soja respondeu por 71% da redução.

O grande vencedor da guerra, segundo a Usda, foi o Brasil, que absorveu “a maior parte do comércio perdido pelos Estados Unidos no ramo da soja”. Só em 2018, a China diminuiu as importações da commodity dos Estados Unidos em pouco menos de US$ 7 bilhões e, em contrapartida, aumentou em US$ 8 bilhões o consumo de produtos agrícolas brasileiros, “quase inteiramente em soja”, cita o documento.

Fonte: Notícias ao Minuto

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