Conheça o homem que cria o tapete vermelho do Oscar, que terá Fernanda Torres
Steve Olive, com mais de três décadas no ramo de carpetes, produz um tom personalizado para o evento em Los Angeles

Num subúrbio nos arredores de Los Angeles, La Miranda, Steve Olive, de 58 anos, caminhava entre centenas de rolos de carpete vermelho, verde e lavanda em um armazém branco e ensolarado de 3.345 metros quadrados.
Estendido no chão estava um tapete de 45 metros de comprimento, num tom personalizado de vermelho disponível apenas para o Oscar. Olive pode não ser famoso, mas celebridades têm desfilado sobre o luxuoso trabalho artesanal de seus carpetes há quase três décadas.
Sua empresa, a Event Carpet Pros, forneceu carpetes para o Oscar, Globo de Ouro, Grammy e Emmy, além de estreias de filmes da Disney, Marvel e Warner Bros. e para o evento esportivo Super Bowl.
No momento em que os carpetes deixaram de lado o vermelho clássico e se tornaram mais chamativos, seu trabalho se tornou mais proeminente. Ele criou designs personalizados como um carpete cintilante e iluminado pelo sol para a estreia mundial de “Barbie” em 2023 e um carpete verde e preto com gotejamento de ectoplasma para a estreia mundial de “Ghostbusters” em 2016, que levou um mês para ser criado.
“Não me deparei com nada que não pudéssemos fazer”, disse Olive, que fundou a empresa com seu cunhado, Walter Clyne, em 1992, em uma entrevista.
Mas na semana passada —após um breve flerte com um tom champanhe há dois anos—, o Oscar optou pela tradição e voltou a um carpete vermelho. O carpete de 4.645 metros quadrados foi instalado do lado de fora do Dolby Theatre, em Los Angeles, na terça-feira, em preparação para a cerimônia de domingo.
Boca a Boca
Tendo crescido em Cerritos, na Califórnia, uma pequena cidade de 15 mil habitantes a cerca de 32 quilômetros a sudeste do centro de Los Angeles, Olive nunca pensou que deixaria o estado. Seus pais trabalhavam turnos de 14 horas em uma fábrica de engarrafamento para sustentar quatro filhos, sendo Olive o mais novo.
Após se formar no ensino médio, surgiu uma oportunidade de trabalhar como segurança para bandas dos anos 1980, como Mötley Crüe, George Michael e Thompson Twins. Olive, um ex-linebacker de 1,88 metro, não pensou duas vezes.
Ele estava trabalhando como segurança nos bastidores de um show dos Thompson Twins, conta, quando teve seu momento de sorte. “O segurança da banda teve que voar de volta para a Inglaterra, e eles me perguntaram se eu poderia começar imediatamente. Eu falei: ‘Estou dentro.'”
Mas vida em turnê se provou um choque. “Não era uma imagem bonita, com as drogas e as groupies”, disse.Mesmo assim, ele esteve na estrada por cerca de cinco anos, viajando pela Europa e Ásia. Mas faria qualquer coisa para sair daquele trabalho. “Era bastante nojento às vezes.”
Seu cunhado, Clyne, que estava instalando tendas pelo país, viu a necessidade de uma empresa especializada em pisos para eventos. Ele perguntou a Olive se estaria interessado em começar um negócio com ele.
No início, colocavam rolos de grama sintética sob tendas em pequenos eventos para esconder o chão e recrutavam amigos para ajudar nas instalações. “Era uma coisa de boca a boca, tipo, ‘ei, quem você usou para o seu carpete?’. E simplesmente se espalhou.”
Eles se apresentaram a eventos que poderiam estar interessados em seus serviços. Logo, Clyne mirou em um dos maiores eventos de todos, o Oscar.
É difícil imaginar, mas o moderno tapete vermelho de premiações nem sempre existiu. O que agora é considerado uma oportunidade privilegiada para capitalizar a relação entre moda e celebridade, sem mencionar a publicidade que um designer recebe quando uma estrela exibe suas criações em um dos maiores palcos de Hollywood, era antes um evento muito mais discreto.
Antes de 1961, as estrelas não tinham um espaço designado para tirar fotos. Quando o atual tapete vermelho estreou, ele se tornou uma plataforma premium não apenas para a moda, mas também para marcas pessoais, anúncios de vida como gravidezes e noivados e, claro, acontecimentos imperdíveis da cultura pop. Ele poderia fornecer o piso para aquele palco mundial de forma mais rápida e eficiente —e, em 1997, o Oscar aceitou.
‘Ele é à moda antiga’
Olive trabalha em um escritório arejado em um canto do armazém de La Mirada, com um sofá de couro marrom, uma grande TV de tela plana e um pôster de Al Pacino do drama “Scarface”, de 1983.
A empresa possui armazéns cheios em ambas as costas, incluindo um segundo local inaugurado em Dalton, na Geórgia, em 2015, onde os tapetes são fabricados.
Além de eventos importantes como o SAG Awards, o Country Music Association Awards e o MTV Video Music Awards, a empresa também lida com pedidos para casamentos, festas de aniversário, eventos corporativos e torneios de golfe.
Com 70 funcionários, a Event Carpet Pros lida com até 30 pedidos e dez instalações por dia durante a temporada de premiações. São mais de 30 mil projetos a cada ano. Os carpetes são feitos de materiais reciclados e também são reciclados após os eventos, disse Olive.
Um dos clientes mais frequentes da empresa é Craig Waldman, presidente e diretor criativo da 1540, uma empresa de produção de eventos com sede na Califórnia, cujos clientes incluem Marvel, Disney, Netflix e Apple. Ao longo de mais de 30 anos, ele e Olive trabalharam juntos em milhares de eventos, incluindo as estreias mundiais de “Capitão América: Admirável Mundo Novo” e “Bad Boys: Para Sempre“.
“Sempre conseguimos encontrar uma maneira de fazer acontecer”, disse Olive, que mantém um arquivo no Instagram de algumas de suas criações favoritas ao longo de mais de uma década, incluindo um tapete com estampa de “Aladdin” e o tapete vermelho e amarelo para a estreia de “Deadpool & Wolverine” no Lincoln Center, em Nova York, no ano passado.
Embora grande parte dos pedidos da empresa envolva solicitações de tingimento personalizado, ela também mantém um estoque de carpete em 30 cores à disposição. “Recebo uma ligação à meia-noite, e alguém diz: ‘Esquecemos de encomendar um tapete para nosso evento amanhã. Você pode aparecer até as 10h da manhã com 20 rolos de carpete preto?'”, disse Olive. “E estaremos lá.”
Fonte: Folha de São Paulo