Serotonina pode ser útil para quadros de ansiedade, sugere pesquisa
Aumento no nível do neurotransmissor foi associado a diminuição de comportamento ansioso em camundongos

Níveis altos de serotonina podem diminuir crises de ansiedade, defende estudo publicado na última segunda-feira (10). A descoberta é preliminar, mas promissora, já que o estudo dos benefícios da serotonina para quadros de ansiedade não é um tema muito investigado por cientistas.
A serotonina, popularmente chamada de hormônio da felicidade, é um neurotransmissor que atua em diferentes áreas do corpo humano. Humor e sexualidade são dois exemplos. Esse neurotransmissor é frequentemente associado com o tratamento da depressão. Em casos assim, medicamentos chamados de inibidores de recaptação da serotonina aumentam os níveis dessa substância no organismo do paciente.
No entanto, a adoção do neurotransmissor para outros transtornos mentais não é devidamente investigada. Publicada no periódico científico The Journal of Neuroscience (O Jornal da Neurociência, em livre tradução), a nova pesquisa buscou entender os efeitos da serotonina para quadros de depressão.
No estudo, George Augustine, pesquisador sênior do Laboratório de Ciências Biológicas Temasek, em Cingapura, e Pei Wern Chin, pós-doutoranda da Universidade da Pensilvânia, nos EUA, partiram do cerebelo para buscar evidência sobre o tema. Normalmente, o cerebelo, uma parte do cérebro humano, é reconhecido principalmente por suas funções motoras, mas pesquisas recentes constataram a relação dele com quadros de ansiedade.
Por isso, os pesquisadores buscaram identificar, a partir do cerebelo, se a serotonina afeta quadros de ansiedade em camundongos. A primeira etapa do estudo consistiu em medir os níveis do neurotransmissor no cerebelo nos animais. Então, esses valores foram comparados com o comportamento ansioso dos camundongos.
Como conclusão inicial, os pesquisadores observaram uma relação inversa entre os fatores: quanto mais alto o nível de serotonina no cerebelo, menor a ansiedade nos animais, e vice-versa.
A partir dessa primeira constatação, os pesquisadores realizaram um segundo experimento. Eles estimularam a produção de serotonina no cerebelo a fim de observar o que acontecia com o quadro de ansiedade dos camundongos. O resultado seguiu o mesmo padrão da conclusão inicial da pesquisa: aqueles animais que tiveram seu nível de serotonina estimulado, apresentaram um controle na ansiedade.
Por enquanto, pesquisas desse tipo precisam ser restritas a animais. “Infelizmente, as tecnologias necessárias para testar rigorosamente essa hipótese ainda não podem ser aplicadas a humanos”, afirma Augustine, um dos co-autores do artigo.
Uma dessas dificuldades tem relação com a tecnologia de estimulação dos receptores de serotonina adotada pela pesquisa no cerebelo dos camundongos. Cientistas encontram problemas para utilizar essa estimulação em primatas, como macacos. Em humanos, superar esse gargalo é ainda mais difícil.
Mas isso não é um indicativo de que a conclusão da pesquisa é completamente descartável para o organismo humano. “Dados os muitos paralelos entre a função do cerebelo em roedores e humanos, eu não ficaria surpreso se o que descobrimos em camundongos eventualmente se revelasse verdade em humanos”, continua Augustine.