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Futebol brasileiro precisa evoluir na articulação das jogadas

O gol geralmente é construído, embora muitas vezes aconteça por uma desconstrução

O gol, expressão maior no futebol, acontece de diferentes e infindáveis maneiras. Nasce do jogo individual e do coletivo, da inspiração e da transpiração, do desejo e do acaso, da concentração e do descuido, da técnica e da inventividade, da lucidez e da dedicação, do planejamento e da improvisação, da bola cruzada e da troca de passes e de tantos outros jeitos. Várias vezes, o gol não tem explicação, acontece.

No amistoso entre Cruzeiro e Atlético-MG, nos EUA, não houve nem deveria ter gols por causa do excesso de faltas, da violência e da ausência de jogadas bem construídas. A falta de melhores condições físicas não justifica as quase 50 faltas. Deyverson, o Deyvinho, cometeu uma falta gravíssima e não foi expulso. Tudo isso em um jogo que deveria ser festivo, uma decepção para os torcedores presentes no estádio.

No ano passado, o Atlético-MG mostrou uma grande carência individual e coletiva no meio-campo, pela falta de talento e porque o técnico priorizava as bolas cruzadas e os lançamentos longos da defesa. O clube contratou dois bons atacantes, Júnior Santos e Cuello, mas continua sem um ótimo meio-campista.

O Cruzeiro trouxe bons jogadores, mas ainda é cedo para afirmar qual será o nível técnico da equipe. Fernando Diniz escalou o time com Dudu pela esquerda, Gabigol avançado pelo centro e Eduardo como um terceiro no meio-campo. Gabigol ainda não encontrou o seu lugar. Não sabe se é um clássico centroavante ou se volta para receber a bola. Bolasie poderá ser uma boa opção na frente formando dupla com Gabigol. O time ficou sem atacante pela direita, espaço que o lateral William tentava preencher.

Flamengo e São Paulo, sem violência, também não fizeram gols em outro amistoso nos EUA. A falta de melhores condições físicas e técnicas de início de temporada não justifica a ausência de gols, pois no meu imaginário e nas minhas lembranças aumentava o número de gols nestes jogos de começo de ano, já que os jogadores não conseguem voltar para marcar.

O São Paulo tem cinco bons jogadores de ataque (Oscar, Lucas, Luciano, Calleri e Ferreirinha). Deve sobrar Ferreirinha, mesmo sempre jogando bem, por ter menos prestigio. Assim acontecia no Grêmio sob o comando de Renato Gaúcho. Oscar sempre foi um ótimo jogador, regular, mas nunca foi excepcional. É uma ilusão achar que ele vai subir bastante o nível técnico da equipe. Além disso, ninguém o viu jogar na China nos últimos dez anos.

O Flamengo continua sem um substituto para Pedro, ainda em recuperação. Há uma falta de típicos e bons centroavantes no futebol brasileiro. É preciso mudar o conceito de que centroavante tem que ser alto, forte, fixo, lento e apenas bom finalizador. Kane, o melhor centroavante do mundo, faz muitos gols, movimenta-se por todo o campo, abre espaço na defesa e dá passes decisivos para gols. Haaland faz muitos gols porque é também bastante veloz.

O futebol brasileiro precisa evoluir na articulação das jogadas. O gol nasce na defesa e principalmente na passagem da bola pelo meio-campo. O gol geralmente é construído, embora muitas vezes aconteça por uma desconstrução. O craque inventa, improvisa e desestrutura o lance antes de fazer o gol. É a união da técnica com a arte.

Fonte: Folha de São Paulo

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