China aproveita soja brasileira barata antes da volta de Trump
Maior exportador mundial deve ter aumento de venda para o país asiático
Compradores chineses estão adquirindo grandes volumes de soja brasileira da próxima safra, tirando vantagem dos preços atrativos em uma estratégia que também ajuda a garantir o fornecimento em um momento de preocupações com o agravamento das tensões comerciais com os EUA.
O país deve colher sua maior safra de todos os tempos, tornando a oferta abundante e ajudando os operadores chineses a garantir boas margens. Compras ativas de soja brasileira já cobrem pelo menos metade da demanda chinesa para o período de fevereiro a abril, bem como cerca de 20% para maio e junho, de acordo com estimativas de operadores que pediram anonimato.
Os traders normalmente reservam cargas com cerca de dois meses de antecedência, mas podem bloquear embarques com maior prazo quando as margens se revelam suficientemente fortes. Os preços na modalidade free-on-board para cargas brasileiras estão cerca de US$ 2 (R$ 11,59) por tonelada abaixo dos preços do Golfo dos EUA para fevereiro, e US$ 22 (R$ 127,51) mais baratos para março, segundo dados da Commodity3.
Processadores chineses também estão adotando a medida incomum de garantir algumas cargas brasileiras para entrega em dezembro e janeiro, durante a entressafra mais cara antes da próxima colheita, disseram os operadores. Esse período costuma ser dominado pelos EUA no mercado global, após sua própria safra.
Embora o Brasil já seja o maior exportador mundial, as compras recentes destacam a crescente dependência da China pela soja brasileira. O temor de um possível choque de oferta, caso os produtos agrícolas americanos sejam envolvidos em outra guerra comercial após a posse do presidente eleito Donald Trump no início do próximo ano, é incentivo adicional para o armazenamento de soja em outros lugares.
TARIFAS EXTRAS
Trump declarou na segunda-feira (25) que planeja impor tarifas adicionais de 10% sobre produtos chineses. Ele já havia prometido aumentar as tarifas para 60% sobre todos os produtos do país asiático, elevando o risco de que bens agrícolas possam ser alvos de medidas retaliatórias.
Os operadores não estão evitando totalmente a oferta americana, e os EUA possuem cerca de 4 milhões de toneladas de vendas de soja pendentes para a China na temporada 2024-25, segundo dados do governo.
Ainda assim, é o menor volume para este período desde 2018, durante o primeiro mandato de Trump. Os compradores estão cautelosos devido às preocupações com tarifas mais altas, afirmou a consultoria chinesa Mysteel Global em um relatório na semana passada.
A China deve importar cerca de 109 milhões de toneladas de soja na temporada atual. A demanda total por produtos agrícolas, incluindo grãos, tem enfraquecido à medida que o país enfrenta uma crise econômica cada vez mais profunda.
Fonte: Folha de São Paulo