No 22° andar ou no térreo? Nessa cidade, é impossível saber onde você está
A cidade de Chongqing, na China, é um verdadeiro jogo de tetris — prédios de diferentes formatos se encontram em andares diferentes, tornando impossível para o morador ou visitante saber em que andar está.
Marina Guaragna, viajante e criadora de conteúdo brasileira, mostrou em um vídeo publicado em suas redes no fim de maio a experiência de tentar perambular por Chongqing, que pode ser um tanto confusa para quem é de fora — ela visita uma praça, por exemplo, no topo de um prédio de 22 andares.
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Eu nunca vi nada parecido com essa cidade no mundo todo. Quando você acha que tá no térreo, olha para baixo e descobre que está em cima de um arranha-céu. Até sair do hotel é um desafio, já que existem várias saídas que dão para ruas diferentes em diferentes níveis!
Desabafou Marina Guaragna após a visita à cidade chinesa
Mas por que Chongqing virou um quebra-cabeças?
Considerada uma megalópolis das mais populosas de todo o mundo desde 2006, quando foi apontada pelo jornal britânico The Guardian como um centro urbano com mais habitantes que todo o território do Peru ou do Iraque, Chongqing e seus arquitetos tiveram que encontrar soluções criativas para a circulação de seus atuais mais de 31 milhões de moradores.
Uma reportagem de Nossa mostrou em 2023 o resultado de tanta criatividade: um metrô que passa por dentro de um prédio de 19 andares. Outro artigo publicado na plataforma digital Tomorrow City, mantida pelo Congresso da Exposição Universal de Cidades Inteligentes (Smart City Expo World Congress, cuja próxima edição acontece em Barcelona em novembro), explicou que o esforço tem a ver com a distribuição da área da cidade.
Isto porque Chongqing não tem apenas uma enorme população, mas também um grande território: são mais de 82 mil quilômetros quadrados (quase o tamanho de toda a Áustria), o que a torna a maior cidade do mundo em extensão. Apesar disso, sua área construída é de “apenas” 5,5 mil quilômetros quadrados, já que boa parte de Chongqing é composta por distritos menores aglomerados e seu subúrbio é considerado rural.
Este fenômeno é resultado de um “boom” de urbanização que aconteceu em apenas uma geração praticamente, durante o século 20, com diferentes designs e desafios impostos pelo crescimento e migração desordenadas da população das áreas rurais que aumentou e muito a densidade ao seu centro. O mesmo aconteceu em Nova York, por volta dos anos 50 e 60.
A topografia irregular é também um fator que pesa nesta “confusão de andares”, já que há regiões de planície em Chongqing, na bacia do rio Yangtze, e outras cortadas por montanhas. Ou seja, literalmente, alguém pode estar aqui em baixo e outro lá em cima.
A maior parte dos moradores, segundo o Tomorrow City, vive em apartamentos, especialmente nos andares superiores. É que, geralmente, prédios são mistos por lá: os andares inferiores costumam abrigar escritórios e serviços — a estação Liziba, que mostramos na nossa reportagem, fica entre o sexto e o oitavo andar. Uma consequência complicada desta combinação é que, com tantos edifícios de arquiteturas dissonantes construídos uns aos outros, nem sempre todo mundo recebe luz solar em casa.
Para integrar a cidade arquitetonicamente “Frankenstein”, os chineses optaram por pontes que interligam edifícios que estão situados não só em níveis diferentes no seu solo, mas que têm projetos distintos. Enquanto alguns prédios têm seus primeiros andares ainda no subterrâneo, outros se estendem apenas acima do chão e rumo às alturas.
‘Complicada’ — de carteirinha
A arquitetura única acabou se tornando nos últimos anos um atrativo turístico e parte da identidade de Chongqing, que acabou apelidada como a cidade mais “cyber punk” do mundo graças não só às pontes e elevados, mas também aos seus prédios com neons coloridos que têm tudo a ver com a estética do movimento cultural.`
O design futurista também caiu nas graças de arquitetos de outros países que dão sua assinatura a prédios por lá, como é o caso do israelense Moshe Safdie, que no Brasil projetou o Centro de Ensino e Pesquisa do Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo.
Safdie finalizou em 2020 o Raffles City Chongqing, um arranha-céu horizontal apoiado sobre três outros prédios a 250 metros de altura. Misto de escritórios, residenciais, hotel, flat, centro comercial e área de lazer, ele ainda oferece mais de 30 mil metros quadrados de áreas abertas comuns com algum verde, já que faltam parques no coração da cidade. “O projeto integra múltiplos pontos de acesso alinhados com a topografia ondulada da cidade, um sistema inovador de desvio de tráfego e uma nova passarela pública que corta por cinco andares do shopping para oferecer uma conexão entre o parque e a praça Chaotianmen”, descreve o site do arquiteto.
Todo o complexo do Raffles conta com oito torres, bares, restaurantes, espaços de eventos, lobby e clube com uma piscina de borda infinita de 50 metros de comprimento. Quem quer se divertir, portanto, vai às alturas em Chongqing.
Fonte: UOL/BOL