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Metade das máquinas de ressonância no Brasil está na rede privada, mas só 25% dos brasileiros têm acesso

Discrepância também aparece nos estados; Distrito Federal tem a maior taxa de equipamentos por milhão de habitantes, enquanto Amazonas tem a menor

No Brasil, embora cerca de 25% da população utilize o serviço de saúde suplementar, 1.815 (52,47% do total) de 3.459 máquinas de ressonância magnética (RM) concentram-se nesse serviço.

O restante, de 1.644, é operado pelo SUS (Sistema Único de Saúde). Em todo o país, a distribuição das máquinas indica um valor de cerca de 17,03 dispositivos para cada milhão de habitantes.

O cálculo divide a quantidade de dispositivos pelo total de habitantes no país multiplicado por um milhão.

Os dados, disponibilizados no portal do Ministério da Saúde pelo CNES (Cadastro Nacional de Empresas de Saúde) e acessados até o último dia 2, mostram como é desigual o acesso a tecnologias em saúde no país.

Os números mostram ainda que as maiores taxas de equipamentos por milhão de pessoas estão concentradas nas regiões Centro-Oeste (23,26), Sul (20,17) e Sudeste (19,44), totalizando 2.632 máquinas em uso nesses locais. Já as regiões Norte (12,22) e Nordeste (11,25) possuem os menores indicadores, com 827 máquinas em funcionamento.

Dentre as Unidades da Federação, o Distrito Federal tem a maior taxa (45,8), enquanto o Amazonas tem a pior (7,1).

O pesquisador do Ieps (Instituto de Estudos para Políticas de Saúde) Leonardo Rosa diz, no entanto, que o número de máquinas do setor privado pode ser maior.

“Uma máquina pode estar em uso no SUS e ser do setor privado, isso porque o sistema público pode contratar uma empresa e essa máquina estar disponível tanto para o setor privado quanto para o SUS”, explica o pesquisador.

No eixo centro, sul e sudeste do país, onde estão concentradas as maiores quantidades de máquinas, pelo menos 1.467 equipamentos são pertencentes à rede privada. De acordo com Rosa, o interesse das operadoras de saúde nessas três regiões ajuda a entender essa alta.

É válido lembrar que, segundo dados de 2023 da ANS (Agência Nacional de Saúde Suplementar), o Brasil registrava 51 milhões de usuários com acesso à rede privada de saúde, cerca de 25% da população brasileira.

“Temos feito contas que mostram o excesso de capacidade no setor privado, considerando que atendem pessoas que têm plano de saúde, e isso pode indicar um certo investimento e uma capacidade até ociosa desses aparelhos, caso mais pessoas não sejam atendidas por eles”, afirma Rosa.

Com exames de duração de 15 a 35 minutos, as máquinas de ressonância magnética são fundamentais para o diagnóstico e tratamento precoce de tumores, problemas cerebrais, musculares, ortopédicos e até cardíacos. Por dia, um equipamento pode atender de 20 a 30 pacientes.

Diretor de infraestrutura e tecnologia do InRad (Instituto de Radiologia) do Hospital das Clínicas da USP, Cleiton Caldeira afirma que isso é possível porque esse tipo de máquina faz imagens anatômicas dos tecidos moles, ou seja, com água e gordura é possível conseguir resolução de alta qualidade.

Apesar de ofertar diagnóstico preciso para várias doenças, a ressonância não costuma ser a primeira opção de exame de imagem. O mais comum é o raio-X, por conta do valor e do fácil acesso, segundo o especialista. Na sequência estão o ultrassom e a tomografia.

A ressonância não é indicada para todos os casos, principalmente, por conta do alto custo do aparelho, de aproximadamente R$ 5 milhões.

O tempo médio de vida desses equipamentos também é alto, de cerca de 10 a 15 anos. O alto valor também impacta na hora da substituição dessas máquinas, que geralmente são atualizadas. “Quando um é instalado, geralmente é possível deixar o magneto [túnel cilíndrico de nitrogênio por onde o paciente entra], que é a parte principal dele, por 20 anos ou até mais”, diz o especialista.

Essa atualização externa do maquinário também tem uma vida útil de, em média, 10 a 15 anos.

Sem produção nacional, todas as máquinas de ressonância disponíveis no Brasil são importadas. Países que concentram uma maior quantidade desse maquinário, como Estados Unidos, Alemanha e Japão, são onde estão localizadas as principais fabricantes do segmento, explica Caldeira.

Segundo dados da OMS (Organização Mundial da Saúde), dentre os países com dados disponíveis para máquinas de ressonância por milhão de habitantes, o Brasil fica atrás de Japão (55,31), Estados Unidos (40,11), Alemanha (34,24), República Coreana (30,29), Grécia (30,22), Itália (28,71), Finlândia (28,7), Áustria (23,10), Islândia (20,53) e Espanha (17,22).

De acordo com especialistas, a entidade não define um valor ideal de máquinas por milhão de habitantes para cada país.

Folha questionou os três grupos de saúde privada com mais maquinários para diagnósticos por imagem, segundo os dados do CNES, sobre a quantidade exata desses equipamentos nas redes.

A Unimed informou que o sistema é formado por 340 cooperativas médicas com gestão independente e que oferecem serviços por meio de sua rede própria e credenciada, e por isso não é possível consolidar o número de máquinas pertencente ao grupo. Foram realizados, em média, 184 exames de RM por mil beneficiários em 2023, e que o custo do exame é coberto pela operadora.

Já os grupos Fleury e Dasa não informaram a quantidade de maquinário disponível, nem o valor do exame nas redes.

De acordo com César Nomura, presidente do conselho da Abramed (Associação Brasileira de Medicina Diagnóstica), empresa que representa os laboratórios privados, a quantidade de máquinas de RM ofertadas às regiões Norte e Nordeste tende a ser menor porque esse tipo de equipamento depende de uma infraestrutura consolidada para ser instalado.

“Essa máquina tem um custo de instalação e manutenção muito grande. Por exemplo, se você não tiver energia elétrica instalada, um equipamento de ressonância magnética não vai funcionar”, afirma Nomura.

Procurado, o Ministério da Saúde respondeu, por nota, que está desenvolvendo ações para facilitar o acesso a consultas e exames especializados, com destaque para o Programa Mais Acesso à Especialistas, que oferece diagnósticos ortopédicos e exames de RM.

Disse ainda que, no entanto, o programa depende da participação dos estados e municípios para identificar necessidades, organizar a Ras (Rede de Atenção à Saúde), e planejar e disponibilizar exames e medicamentos. Eles também podem contratar serviços privados conforme necessário.

Fonte: Folha de São Paulo

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