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Ter maior flexibilidade reduz mortalidade em homens e mulheres, diz estudo

Pesquisa mostra correlação entre amplitude de movimentos e tempo de vida

Praticar exercícios de flexibilidade pode contribuir para uma vida mais longa. Um novo estudo, liderado por pesquisadores brasileiros, mostrou que pessoas com maior amplitude de movimento em diferentes articulações possuem uma expectativa de vida, em geral, maior do que aquelas com mais limitações.

A flexibilidade naturalmente é perdida com o envelhecimento, já que nossos músculos tendem a se enrijecer. Essa perda gera problemas de equilíbrio e aumenta o risco de quedas, que podem ser fatais em idades mais avançadas. Além disso, a menor capacidade de realizar tarefas implica em maior dependência, que reduz a qualidade de vida. A boa notícia, entretanto, é que com treino adequado podemos ganhar não só mais amplitude de movimento como também tempo de vida.

Publicado na revista científica Scandinavian Journal of Medicine & Science in Sports, o estudo foi conduzido com mais de 3.000 pessoas com idade entre 46 e 65 anos. Os voluntários foram avaliados segundo o exame Flexiteste, um método de avaliação de flexibilidade elaborado por Cláudio Gil Araújo, médico e diretor de pesquisa e educação na Clinimex (Rio de Janeiro). A maioria dos participantes (66%) eram homens. Todos foram acompanhados por 13 anos, em média.

Houve uma correlação inversa entre os resultados do Flexiteste e a mortalidade dos participantes. Em geral, o total de pontos entre os que apresentaram maior longevidade foram 10% maiores do que os que chegaram a óbito durante o período da pesquisa.

De maneira geral, homens com uma pontuação baixa no teste tiveram um risco 1,87 vez maior de morrer do que aqueles com mais pontos. Para mulheres esse risco chega a 4,78 vezes. Os resultados também mostram que as mulheres têm, em média, 35% a mais de flexibilidade do que os homens. Em 13 anos, quase 75% das mortes observadas foram de homens.

O estudo também contou com controles estatísticos para eliminar a influência de outras variáveis como a idade, estado de saúde ou IMC (índice de massa corpórea, calculado pelo peso dividido pela altura ao quadrado) dos participantes.

Araújo acredita que os resultados podem causar um impacto na forma como enxergamos a flexibilidade. Muitas vezes subestimado e até deixado de lado, o pesquisador afirma essa prática deve ir além dos simples alongamentos rápidos ao longo do dia. É preciso fazer uma avaliação das dificuldades particulares de cada pessoa e um trabalho individualizado para corrigir deficiências e promover o ganho de movimentos onde for necessário.

O pesquisador ressalta que o estudo tem limitações. Entre elas, destaca-se que os resultados mostram uma correlação entre flexibilidade e longevidade, mas não necessariamente uma relação de causa e efeito. Essa relação pode ser deduzida a partir de outras observações, como a maior probabilidade de queda ou a perda de independência decorrentes da rigidez articular. Entretanto, pode também ser apenas um sinal de outros problemas de saúde existentes, como a diabetes que causa uma fragilização dos tendões.

O Flexiteste não precisa de aparelhos para ser colocado em prática. A técnica consiste em uma série de 20 movimentos a serem pontuados entre 0 e 4 por um especialista. No total, são analisadas sete articulações diferentes que oferecem uma visão mais completa sobre a capacidade de articulação dos participantes. Além disso, diferente dos demais, o teste avalia uma variedade maior de habilidades.

Segundo Araújo, muitos exames acessíveis de flexibilidade não levam em conta características individuais dos pacientes. Um deles, que consiste em sentar em determinada posição e alcançar com as mãos um determinado alvo, por exemplo, favorece quem tem braços mais longos. Outro teste muito popular, que avalia a capacidade de se levantar do chão sem a ajuda das mãos, prejudica participantes com obesidade.

Os resultados da pesquisa implicam que o treino de flexibilidade pode ser positivo para viver por mais t empo, e essa habilidade pode ser treinada de diversas formas, dentre as quais a ioga e o pilates se destacam. Uma pesquisa publicada no ano passado acompanhou participantes por 16 semanas e viu um ganho mensurável de flexibilidade em partes do corpo como pernas e quadril. Os exercícios também melhoraram o equilíbrio, outra característica que pode favorecer o envelhecimento saudável.

Uma outra alternativa que favorece o ganho de flexibilidade é a dança, de acordo com experimentos realizados na UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul) e na UFPA (Universidade Federal do Pará). Segundo a professora e pesquisadora da UFPA, Elren Passos Monteiro, que coordena um projeto de danças amazônicas para pessoas com Parkinson, com apenas 12 semanas já é possível ver uma melhora na performance dos participantes.

A especialista afirma, entretanto, que não basta treinar a flexibilidade isoladamente. Os resultados são maiores quando os exercícios são combinados com treinos de força.

Apesar de algumas crenças populares, o ganho de massa muscular não prejudica a amplitude dos movimentos. Pelo contrário, as favorece. “A longo prazo, é uma habilidade essencial para nossa qualidade de vida e precisa ser trabalhada diariamente. E se a gente quer ter uma melhor funcionalidade na terceira idade, a gente precisa atentar ainda enquanto jovem”, afirma Monteiro.

Fonte: Folha de São Paulo

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