Liraglutida tem bons resultados contra declínio cognitivo por Alzheimer em estudo
Caneta injetável precursora do Ozempic, droga comercializada pelo nome Saxenda, apresentou eficácia em um ensaio com 204 participantes no Reino Unido
Dados de um pequeno ensaio clínico publicados nesta terça-feira (30) mostram que a liraglutida, medicamento da classe agonista do receptor GLP-1 conhecido por perda de peso retardou a perda de volume cerebral em pessoas com doença de Alzheimer leve.
Os resultados do ensaio, publicados na Conferência Internacional da Associação de Alzheimer, forneceram o primeiro vislumbre de como os medicamentos GLP-1 podem agir em distúrbios cerebrais difíceis de tratar.
O ensaio avaliou apenas 204 pacientes no Reino Unido, metade dos quais receberam o medicamento GLP-1 de geração anterior da Novo Nordisk, a liraglutida, e a outra metade recebeu um placebo.
O ensaio não obteve eficácia em seu desfecho primário que era a mudança na taxa metabólica de glicose cerebral, uma avaliação da função cerebral, mas atingiu os chamados desfechos secundários, que mostraram que a liraglutida parece reduzir a diminuição nas partes do cérebro que controlam a memória, aprendizado, linguagem e tomada de decisões em quase 50%, em comparação com o placebo.
O ensaio não foi patrocinado pela Novo. No entanto, a empresa farmacêutica dinamarquesa está testando seu medicamento GLP-1 de nova geração, mais eficaz, a semaglutida (princípio ativo do Ozempic e Wegovy) em milhares de pacientes com Alzheimer precoce. Seus dois ensaios começaram em 2021 e os resultados são esperados em 2025.
Rebecca Edelmeyer, diretora sênior de engajamento científico na Associação de Alzheimer, disse à Reuters que os resultados publicados na terça-feira eram “realmente intrigantes”. “Esta é a primeira vez que realmente vemos esse tipo de resultado de intervenção em um ensaio clínico”, disse ela.
Pesquisadores afirmaram à agência no ano passado que ensaios de diabetes, do Ozempic à insulina e metformina, parecem abordar vários aspectos diferentes do sistema metabólico implicado no Alzheimer, incluindo uma proteína chamada amiloide e inflamação.
A esperança é que melhorar a utilização de glicose e reduzir a inflamação no corpo – incluindo o cérebro – possa retardar a progressão do Alzheimer.
Ainda assim, o ensaio publicado na terça-feira não foi projetado para medir benefícios cognitivos, e alguns cientistas pediram cautela.
“A reutilização de medicamentos é uma importante via de pesquisa, mas há muita incerteza aqui”, disse Stephen Evans, professor emérito da Escola de Higiene e Medicina Tropical de Londres.
Segundo Evas, a diminuição nas partes do cérebro responsáveis pela memória e aprendizado observada no pequeno ensaio “pode não se traduzir em benefícios cognitivos importantes” e os resultados não demonstraram que a liraglutida pode proteger contra demência, embora seja considerável realizar um ensaio maior.
Fonte: Folha de São Paulo