Cannabis medicinal e dor crônica: saiba como funciona o tratamento
Remédios à base de cannabis vem se destacando como alternativas para o tratamento da dor. Médicas explicam como funciona
O tratamento da dor crônica é um desafio para os médicos. O uso contínuo de analgésicos provoca efeitos ruins para o aparelho digestivo e para os rins; o de inflamatórios atinge um teto, o corpo acostuma; e o de opioides, quando frequente, pode levar à dependência física.
Uma alternativa contra a dor crônica que vem obtendo cada vez mais evidências científicas e aceitação entre médicos e pacientes conjuga a cannabis medicinal com outras medicações.
Protocolos médicos que incluem o CBD (canabidiol) e a cannabis full spectrum (que contém todas as substâncias da planta, inclusive o THC) apresentaram vantagens para pacientes com esclerose múltipla, lesão da medula espinhal e fibromialgia, entre outros.
“O uso de produtos à base de cannabis pode ser feito como uma medicação a mais, na intenção de diminuir as doses de outros medicamentos, ou como uma alternativa, quando não alcançamos efeitos satisfatórios com as medicações regulares”, explica a médica Cristina Flávia Andrada Batista, responsável pela clínica AcolheDOR, em Brasília.
Como a cannabis medicinal age
A dor é um sinal de alarme do organismo, um aviso de que algo errado está ocorrendo na pele, nos músculos, nas vísceras ou no sistema nervoso central.
A dor crônica resulta de um defeito de comunicação entre os neurotransmissores e as células nervosas, que acionam o alarme mesmo que não haja estímulos. A sensação é bastante real para o paciente, que fica com a qualidade de vida comprometida e, frequentemente, desenvolve quadros de depressão e ansiedade.
“Em estudos de dor crônica generalizada, o tratamento com CBD mostrou uma melhoria significativa na disposição para atividades e na qualidade do sono. Sabemos que estes parâmetros estão intimamente ligados à sensação de dor. O THC também é um importante aliado para quem sofre com dores crônicas por seus efeitos analgésicos e relaxantes”, aponta a médica Mariana Maciel, que trabalha no desenvolvimento de remédios à base de cannabis no Canadá.
A medicação feita a partir da planta age na modulação da dor, liberando receptores químicos no corpo em uma tentativa de reequilibrar a comunicação entre os neurotransmissores e as células nervosas.
Que dores crônicas estão sendo tratadas?
A anestesiologista Cristina Flávia Andrada Batista explica que os produtos à base de cannabis têm sido prescritos para dores crônicas provocadas por diferentes causas, desde inflamações, como a artrite reumatoide, até o câncer.
Ela acrescenta que o extrato de cannabis é uma medicação potente, por isso deve ser usado com cautela. “Não podemos ver da mesma forma um tratamento de dor para um paciente com câncer terminal e um indivíduo jovem com fibromialgia. As doses e o período de uso da medicação são distintos”, aponta.
A médica acrescenta que existem contraindicações para o uso de medicações à base de cannabis, por isso o tratamento precisa ser individualizado, orientado e acompanhado por um médico. A principal forma de administração da medicação é por via oral: gotas do extrato da planta são colocadas diretamente debaixo da língua, evitando a passagem do óleo pelo fígado. No entanto, também há opções em cápsulas, cremes e loções.
Como comprar produtos à base de cannabis
A venda de cannabis medicinal é aprovada no Brasil desde novembro de 2022. No entanto, apenas um medicamento para esclerose múltipla entrou na categoria de remédio.
Os outros são produtos derivados de cannabis, como óleos e extratos, cujas exigências para registro são menores. Eles têm função terapêutica, mas são considerados complementares aos tratamentos.
Os pacientes podem comprar os medicamentos e os derivados autorizados pela Anvisa diretamente nas farmácias, desde que tenham prescrição médica.
Crescimento do mercado de cannabis medicinal
Levantamento da Associação Brasileira da Indústria de Canabinoides (BRCANN) aponta recorde histórico de crescimento nas vendas de produtos medicinais de cannabis nas farmácias brasileiras.
Foram comercializadas 417,6 mil unidades em 2024 ante 194,1 mil nos primeiros três meses de 2023, um salto de 151,4%. Em valores, as vendas do setor movimentaram 163,7 milhões de reais no período, em comparação com os 81 milhões de reais do ano anterior, representando um crescimento de 202%.
Fonte: Metrópoles