Juiz de futebol também deve dar entrevista depois do jogo
Coletiva obrigatória dos árbitros ajudaria a explicar decisões e a entender a regra do jogo. Por que somente jogadores e treinadores dão a cara?
Arbitragens de jogos de futebol estão entre os assuntos mais comentados entre os torcedores.
A evolução na captação e na qualidade das imagens de transmissão em vídeo e o advento da arbitragem de vídeo (VAR) deram aos juízes um protagonismo que não lhes pertence. As estrelas do espetáculo são os atletas. Atualmente, a arbitragem tem espaço nobre em debates e transmissões, muitas vezes com até mais visibilidade do que o desempenho dos jogadores e treinadores.
Mas há um momento do qual os árbitros são poupados (ou excluídos): o de dar explicações após as partidas. Eles não dão entrevistas. Embora contem com uma prerrogativa poderosa que é a de escrever o documento oficial do jogo: a súmula.
Quando um jogador ofende um árbitro, o relato vai para a súmula, mas quando um jogador diz que foi ofendido pelo árbitro, não vai. A súmula é propriedade do árbitro.
Têm acontecido erros bizarros de arbitragem, que provocam reações várias vezes muito acima do tom, com ameaças e tentativas de agressão.
Sempre que uma partida termina, minutos após o jogo, ainda sob a intensa emoção da disputa, treinadores e jogadores falam sobre o ocorrido. Em diversas ocasiões, atacam duramente a arbitragem. Em alguns casos eles resolvem não falar e abrem espaço para dirigentes espalharem teorias conspiratórias e fazerem mais acusações.
Os árbitros? Entram mudos e saem calados. Nem a oportunidade de se defender de acusações e explicar marcações e decisões que gerem polêmicas é dada a eles.
O desconhecimento das regras do jogo por grande parte de torcedores, jornalistas, atletas e técnicos cria situações embaraçosas e que terminam inflamando discursos que seriam evitados caso as explicações fossem dadas em entrevistas após a partida
Existe a hipótese de que as entrevistas sejam proibidas, também, porque em muitos casos seriam admissões de erros que poderiam gerar consequências graves.
Há situações em que os erros são cristalinos, mas na súmula do jogo o árbitro se protege deles criando uma versão, que passa a ser oficial, que é destruída pelos fatos em campo.
A CBF deveria providenciar um espaço para entrevistas do árbitro principal após cada jogo e tornar regra. Caso não haja polêmica ou dúvida, a sala ficará vazia. Mas se houver dúvidas e explicações a serem dadas, por que não logo após a partida?
As explicações são da Comissão de Arbitragem, um ou mais dias após as partidas, com divulgação para o público e a imprensa de trechos dos áudios do VAR previamente selecionados. Os clubes têm acesso à integra da gravação.
Houve até a criação de um programa de vídeo protagonizado pelo presidente da Comissão de Arbitragem da CBF, Wilson Luiz Seneme, que de tão bizarro virou piada, tamanho o malabarismo que ele fazia para defender seus comandados. Ainda que para isso fizesse uma interpretação particularíssima das regras do jogo.
Fato é que dado o protagonismo da arbitragem e a importância cada vez maior das intervenções do VAR, está na hora de os árbitros darem entrevistas após os jogos.
No entanto, não seria a medida mais importante.
O mais urgente é a profissionalização da atividade. A CBF reluta e argumenta que os custos tornariam a prática inviável. Mas certamente o investimento nesse profissionalismo faria muito mais sentido do que uma entidade que cuida de futebol comprar jatos particulares e helicópteros ou distribuir mesada para federações.
Árbitros de alto nível ganham bem e trabalham bastante. Mas normalmente vivem sem cobertura para tratar de lesões, aprimorar o preparo físico e psicológico e, consequentemente, elevar o nível de desempenho.
Fonte: CNN Brasil