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Sem herdeiros campeões, Brasil vive jejum na F1 desde reinado de Senna

País teve seu último título em 1991 e hoje não conta com nenhum representante na principal categoria do automobilismo

Quando Ayrton Senna conquistou seu terceiro título mundial, em 1991, parecia que o Brasil já tinha pronta uma linha sucessória para sua galeria de campeões de F1.

Três nomes contavam com grande entusiasmo da mídia e da torcida: Christian Fittipaldi, então com 20 anos e campeão da F3000, equivalente à atual F2, Rubens Barrichello, à época com 19 e campeão da F3 inglesa, e Paulo Carcasci, já um pouco mais velho, com 27 anos, vencedor da F3 japonesa. Tudo isso em 1991.

Nenhuma dessas apostas chegou ao título da F1. E nenhum outro brasileiro alcançou o feito de Senna e de seus antecessores, Emerson Fittipaldi e Nelson Piquet.

Do trio que despontava em 1991, Rubinho foi quem ao menos chegou perto do objetivo, com uma carreira robusta e dois vice-campeonatos mundiais, em 2002 e 2004. Nessas temporadas ele corria pela Ferrari, escuderia pela qual Felipe Massa também alcançou um vice, em 2008.

Desde o ano passado, Massa passou a questionar na Justiça a perda desse campeonato. Ele afirma que foi prejudicado durante o GP de Singapura, determinante para o desfecho do Mundial, vencido por Lewis Hamilton por apenas um ponto. Seus advogados estão na fase inicial de um processo que busca uma reparação financeira e histórica pelo ocorrido.

“A gente começa a pensar o que isso representa não só para mim mas o que representa para o país, para o automobilismo, para a formação de pilotos. A gente sabe quanto o Senna foi importante”, disse Felipe à Folha.

Depois de Ayrton, apenas Massa e Rubinho venceram corridas na categoria, mas seus triunfos somados, 22 ao todo, sendo 11 de cada um, representam apenas pouco mais da metade das 41 vitórias do tricampeão —até hoje o sexto que mais venceu na F1.

O Brasil vive um jejum de títulos há mais de três décadas. Parece cada vez mais distante a era de ouro do país na principal categoria do automobilismo mundial, com um auge que começou no início dos anos 70 e durou até a primeira parte da década de 90, quando Senna, Piquet e Fittipaldi conquistaram, juntos, oito campeonatos.

O país era a segunda nação com mais troféus, só atrás da Grã-Bretanha, que reúne os títulos da Inglaterra e da Escócia. Até 1991, os britânicos tinham dez mundiais —atualmente, acumulam 20.

Estacionado nos oito, o Brasil hoje é a terceira nação com mais campeonatos, atrás da Alemanha, que não tinha nenhum troféu até 1994, ano da morte de Ayrton Senna e também do primeiro dos sete títulos de Michael Schumacher. Com mais quatro de Sebastian Vettel e um de Nico Rosberg, os alemães agora somam 12.

Não há hoje representantes brasileiros na F1. Desde 2017, quando Felipe Massa completou sua 15ª e última temporada, nenhum piloto do país obteve uma vaga de titular.

No próximo domingo (5), no GP de Miami, o Brasil será representado somente por dois reservas, Felipe Drugovich, da Aston Martin, e Pietro Fittipaldi, da Haas. Dos dois, apenas o neto do bicampeão Emerson Fittipaldi já teve a chance de correr na categoria, mas isso na já distante temporada de 2020, quando participou de duas corridas, em Abu Dhabi e Sakhir, substituindo o francês Romain Grosjean.

Com um carro que competia no último pelotão naquela temporada, Pietro obteve como resultados um 19º e um 17º lugar, resultados que fazem parte do maior hiato de vitórias do Brasil na categoria.

A última vez que a bandeira brasileira foi vista no lugar mais alto do pódio foi ao fim do GP da Itália de 2009, quando Barrichello venceu. Já são 15 anos de jejum, o maior período desde que Emerson Fittipaldi deu ao país sua primeira vitória na categoria, em 1970.

Antes, o maior intervalo era entre a última vitória de Senna, no GP da Austrália de 1993, e o primeiro triunfo de Rubinho, no GP da Alemanha de 2000.

Fãs brasileiros de automobilismo costumam questionar qual seria o papel de Ayrton se ele estivesse vivo. Para alguns, ele usaria sua relevância para abrir portas para compatriotas. Pilotos que o conheceram ou entendem muito bem o mundo do automobilismo divergem sobre isso.

Luciano Burti, que disputou as temporadas de 2000 e 2001, acredita que Senna seria mais recluso e não seria uma figura frequentemente vista no ambiente da categoria. “Eu conheci pouco o Ayrton, mas eu não o vejo querendo viver conviver no meio do automobilismo, em que era muito assediado. Acho que ele seria parecido com o Pelé, de aparecer mais em momentos importantes para representar o Brasil.”

Felipe Giaffone, piloto na Fórmula Indy por seis temporadas e de carreira vitoriosa na Fórmula Truck, por outro lado, acha que Senna poderia, sim, ajudar a formar novos pilotos. “O meu sentimento é que o Ayrton estaria hoje envolvido com escolas de pilotos, envolvido na formação de talentos”, disse.

Fonte: Folha de São Paulo

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